Aos 13 anos de idade, após a morte de sua mãe, Alan deixava Sabará e chegava a Belo Horizonte onde foi morar com parentes. Seu tio, Mário Baptista, trabalhava na joalheria Theodomiro Cruz, a primeira de Belo Horizonte. Aos 17 anos, Alan confeccionou sua primeira jóia. “Eu aprendi só observando. Ele me mandava olhar e dava uma peça para eu fazer”, lembra Alan.
Aos 25 anos, Alan se aperfeiçoou no ofício através da influência do Italiano Giorgio Bertapelli, ourives que veio exercer sua arte no Brasil. Alan conheceu Giorgio por meio de um incidente com o governo brasileiro: Bertapelli trazia de seu país maquinários que foram detidos no porto de Santos, no estado de São Paulo. Depois desse episódio, o italiano foi trabalhar na joalheria da família Cruz.
Desde então, Alan buscou aprimorar suas técnicas através de cursos e de aprendiz, ele se tornou mestre. Em 54 anos de trabalho, ele passou a arte para mais de mil alunos, entre eles, nomes que mais tarde se tornaram famosos na área de desenho e fabricação de jóias. Alan recebeu críticas por passar o ofício adiante, pois estaria promovendo concorrência contra ele mesmo. Mas a convicção do ourives não muda: “Falam que crio cobra para me picar; mas acho que a arte tem que prevalecer”, ressalta.
De acordo com Alan, hoje não existe ourives como antigamente, que participava de todos os processos de fabricação da jóia. Foram criadas tecnologias que suprem várias etapas do trabalho. “Aquele ourives que fazia tudo acabou. Hoje existe um programa de computador que desenha jóias e uma máquina que te dá o anel pronto, com todos os detalhes que você quiser”, diz. Mas ainda há funções que não podem ser substituídas, como o cravador, que é responsável por encaixar pedras em jóias. “Felizmente nenhum computador é capaz de cravar uma pedra em uma jóia. Por melhor que seja pedra, ela pode ter milímetros de imperfeição que o computador não consegue detectar”, explica.
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O ourives Alan Calijorne acredita que não há mais
profissionais da área como antigamente
O sociólogo Carlos Felipe Horta, presidente da Comissão Mineira de Folclore e autor de 19 livros que tratam de temas como cultura e tradição, explica que, ao longo do tempo, é comum haver mudanças na estrutura das profissões, pois a sociedade também se modifica. “A sociedade urbana acaba exigindo certos tipos de trabalhos que antes não eram necessários”, afirma. Segundo ele, o costume das famílias em passar a profissão a cada geração foi ficando mais raro devido à idealização que os pais passaram a ter a respeito dos filhos. “O pai não quer que o filho seja igual a ele. Ele quer que o filho seja mais do que ele”, observa. Pensando num futuro melhor, explica Carlos Horta, os pais lutam para que os filhos tenham a oportunidade de estudar e escolher a própria profissão.
Mesmo diante de uma sociedade que, cada vez mais, demanda novos trabalhos e exige a especialização de atividades, o sociólogo não acredita que as profissões vão acabar, mas se modificar. “Hoje existe o ourives que desenha as jóias para quem tem maior poder aquisitivo e o ourives que as pessoas procuram só para fazer a aliança”, diz. Ele lembra que alguns ofícios sofreram mais com as mudanças do tempo, mas acredita que as profissões sobrevivem a medida que vão encontrando novas realidades e se adaptando a elas.
Reportagem feita em conjunto com Thaíne Belissa e Alice Maciel, para publicação no jornal Hoje em Dia.
A reportagem é sobre como algumas profissões ainda sobrevivem através do ensino de mestres para aprendizes
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